28 de out. de 2025
Artigo especial
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Por Renato Grau
Vivemos uma era curiosa: quanto mais as máquinas aprendem a sentir, mais nós parecemos esquecer como fazê-lo. Delegamos cálculos, decisões e até conversas à IA — e, silenciosamente, começamos a terceirizar também a empatia. Só que há um limite que a automação não cruza: o das relações humanas que sustentam o trabalho, o propósito e o pertencimento.
Enquanto algoritmos se tornam mais generativos, as pessoas se tornam mais reativas. A ansiedade cresce, o foco se fragmenta, a confiança se rarefaz. E é nesse vácuo que a inteligência emocional reaparece — não como uma “soft skill”, mas como uma competência estratégica de sobrevivência e diferenciação.
As evidências são contundentes: empresas com líderes emocionalmente inteligentes têm menos rotatividade, maior engajamento e times mais produtivos. E há um paradoxo belo nisso tudo — quanto mais a IA se expande, mais a humanidade volta a ser vantagem competitiva.
Esta carta mergulha nesse ponto de inflexão: conecta dados de pesquisas globais, explora os hábitos emocionais que transformam líderes em referências e demonstra por que a IA, ao automatizar tarefas, está nos forçando a reaprender o que é sentir, decidir e cuidar.
O coração de silício pulsa — mas é o humano que define o ritmo.
Paradoxo produtivo: quanto mais perfeita a máquina, mais preciosa a imperfeição humana
Quanto mais o trabalho se automatiza, mais o humano se torna o diferencial. É uma ironia elegante do nosso tempo: as empresas correm para adotar ferramentas de IA generativa, mas os resultados que realmente escalam vêm de times capazes de lidar com ansiedade, conflito e sentido.
A TalentSmart, que estudou mais de 1milhão de profissionais, descobriu que 90% dos de melhor performance têm altos níveis de inteligência emocional. Já a Hay Group mostrou que equipes com IE elevada são até 22% mais produtivas, não porque trabalham mais, mas porque trabalham com menos ruído emocional.
Em outras palavras: não é a tecnologia que trava, é o vínculo humano que se perde. A IA acelera o como, mas é a inteligência emocional que sustenta o porquê e o para quê.
Num mundo em que algoritmos fazem previsões com precisão crescente, o papel humano passa a ser outro: orquestrar significados, sustentar coerência e decidir com empatia. É o que diferencia líderes que apenas operam de líderes que inspiram.
O Fórum Econômico Mundial projeta que 40% das habilidades profissionais mudarão até 2030 — e as que mais crescem são as que não cabem em código: resiliência, adaptabilidade, criatividade e julgamento ético. Ou seja, quanto mais as máquinas automatizam, mais o trabalho humano se transforma em gestão de emoções coletivas.
E talvez o ponto mais provocador seja este: a IA não está nos substituindo — está nos revelando: onde somos superficiais, onde reagimos por medo, onde confundimos velocidade com clareza. Revela, também, onde o humano ainda é insubstituível: nas conversas que decidem o rumo de um projeto, nas intuições que conectam dados dispersos, nas pausas que evitam erros éticos irreversíveis.
A produtividade do futuro não se mede apenas em entregas — mede-se em presença emocional. E quem entender isso antes dos outros, não apenas sobreviverá à era da IA. Vai liderá-la.
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Os trechos do artigo acima constam da Carta do Especialista de outubro, produzida por Renato Grau, especialista em Transformação Digital, Inovação e Futurismo e fundador & host do TrenDs News.
Empresário e empreendedor, é fundador de diversas empresas e Cofundador, Embaixador e Conselheiro do Movimento Brasil Digital para Todos.
A Carta do Especialista é uma newsletter criada por Renato Grau para provocar reflexões que desafiem o senso comum e, ao mesmo tempo, apontem caminhos possíveis. Ela é postada todos os meses em sua página de Linkedin.
A íntegra da Carta do Especialista de outubro:



