29 de out. de 2025
Ciclo de receita
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Se você pensa na Classificação Internacional de Doenças apenas como “aquela lista de códigos que o médico consulta em um laudo ou que aparece no prontuário”, é bom saber: a nova versão, denominada CID-11, vem para virar esse mundo do avesso (ou pelo menos alterar o modo de uso da mesma). E o Brasil está em movimento em relação a este tema, mas com a calma necessária, pois ainda há bastante caminho pela frente.
O que é a CID-11 e por que mudou
A CID-11 foi aprovada pela World Health Organization (sigla em inglês da Organização Mundial da Saúde) em 2019, durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde, e entrou em vigor globalmente em 1º de janeiro de 2022. Ela representa um salto relativamente grande em termos tecnológicos, conceituais e de abrangência: mais códigos, melhor especificação e estrutura digital mais flexível.
Em nosso país, o cronograma foi divulgado e atualizado algumas vezes. Confira os pontos principais:
O início da implementação nacional da CID-11 foi formalmente registrado em 2021.
A tradução para o português brasileiro já está em curso: o processo é coordenado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com apoio do Ministério da Saúde (MS) e da OPAS/OMS, envolvendo médicos, fisioterapeutas, farmacologistas etc.
O Brasil já definiu que a adoção plena (ou seja, uso “obrigatório” ou com implantação ampla) está prevista para janeiro de 2027.
Uma das razões do prazo estendido é justamente a necessidade de atualizar sistemas de informação, capacitar profissionais, preservar as séries históricas de dados (para que a mudança não “quebre” os registros anteriores) e compatibilizar com a complexidade territorial brasileira.
O esforço da tradução e outras medidas técnicas
O idioma foi uma das primeiras barreiras a serem enfrentadas em relação à CID-11, que foi originalmente preparada em inglês e não tinha tradução automática para o português brasileiro. Cabe enfatizar que traduzir, neste caso, não significa apenas converter palavra por palavra, mas adaptar conceitualmente o conteúdo, para que os termos façam sentido no contexto brasileiro: sistemas de saúde, SUS, convênios, codificação vigente.
Algumas outras medidas técnicas também são, ou foram, essenciais neste processo:
Integração de sistemas de TI hospitalar e ambulatorial
Para usar a nova classificação, os sistemas precisam estar preparados para codificar, transmitir, armazenar e processar os novos códigos da CID-11.
Comparabilidade de séries históricas
Quando um sistema muda de classificação (da CID-10 para a CID-11), há risco de “saltos” ou rupturas nos dados epidemiológicos ou de faturamento, o que prejudica a análise ao longo do tempo. O Brasil está atento a esse ponto.
Capacitação de profissionais
Não basta ter o código, é preciso que quem usa (todos aqueles que atuam na saúde, em especial codificadores e gestores de sistemas de informação) saiba como aplicar.
Divulgação e promoção
Se ocorrer uma “mudança invisível”, os problemas tendem a ser inúmeros. É preciso que se saiba que haverá mudança, que haja material, treinamento, guias.
Em síntese, o Brasil está em fase de transição planejada, com previsão de adoção plena em 2027, com tradução em português já feita ou em fase final, e com desafios claros que envolvem TI, dados, capacitação e compatibilidade técnica.
A CID-11 e o ciclo da receita
A Classificação Internacional de Doenças está diretamente ligada ao faturamento das empresas do segmento da saúde. Confira as áreas em que a CID-11 terá impacto.
Diagnóstico e codificação
Para que o hospital ou clínica fature corretamente, é preciso que tudo que foi feito – diagnóstico, procedimento, consulta, internação – esteja documentado e codificado de forma padronizada. Quando o diagnóstico aparece com o código errado, ou eventualmente não aparece, há risco de glosa, atraso de pagamento ou até recusa. A classificação de doenças (como a CID-10 ou futuro CID-11) é parte desse sistema de codificação.
Faturamento e remuneração
O código de diagnóstico influencia o agrupamento de procedimentos, a pertinência de internação, os valores, os indicadores de complexidade e o contrato com a operadora ou SUS. A codificação clara e atualizada ajuda a evitar “cobrar errado”.
Gestão de dados, indicadores e qualidade
A adoção da CID-11 significa uma melhora na granularidade dos dados, ou seja, os diagnósticos mais finos, mais específicos. Isso permite melhores análises de custo, eficiência, pior e melhor evolução de pacientes, duplicidades, padrões assistenciais. Para o gestor hospitalar, isso significa informação mais refinada para decidir em que especialidades investir, quais procedimentos são mais rentáveis ou os que mais geram glosas e onde há desperdício.
Redução de glosas e perdas na receita
Se os diagnósticos estiverem incorretos ou fora do padrão vigente, o pagador (operadora ou SUS) pode recusar pagamento, devolver conta ou aplicar “glosa” (uma parte da conta que não é aceita). Uma codificação mais alinhada (como a que a CID-11 oferece) ajuda a reduzir esse risco e, portanto, melhora a saúde financeira da instituição.
A transição para a CID-11 no Brasil significa mais do que uma oportunidade para um “ajuste técnico”, pois oferece a gestores hospitalares, equipes de faturamento, TI, codificação e auditoria a chance de atualizarem processos, melhorar a qualidade de dados, reduzir perdas na receita e preparar o hospital para o futuro.



